quarta-feira, 12 de maio de 2010

As Pessoas do Triângulo

Autor: Samuel Betkowski

Em setembro do ano passado fiz um curso de fotojornalismo, ministrado por João Bittar, na Imã Foto Galeria. O curso teve duração de 4 meses e, dentre as excelentes conversas e os assuntos abordados, o que teve grande destaque pra mim foi a história do fotojornalismo, mostrando a vida e o trabalho de vários fotógrafos precursores do fotojornalismo atual. Isso me trouxe inspiração para fotografar e é nítida a diferença das minhas fotos antes e depois do curso.

Também comecei a ter uma outra visão da fotografia jornalística. O João passou muito do seu conhecimento como editor de grandes jornais e revistas. Acredito que essa parte “editorial” é extremamente necessária e frequentemente negligenciada ou esquecida por quem está começando na fotografia e, mais especificamente, no fotojornalismo.

Mas teve uma coisa que fizemos que realmente valeu a pena. Foi criar o hábito e, mais do que isso, criar o gosto (no meu caso paixão) pela fotografia de rua. Durante o curso escolhemos um tema: fotografar as ruas do “Triângulo” do centro velho de São Paulo.





O Triângulo é onde a cidade de São Paulo nasceu. É o perímetro delimitado pelas Ruas Direita, São Bento e 15 de Novembro, no Vale do Anhangabaú.





O Centro era balizado pelos Conventos de São Francisco, São Bento e São Carmo. As ruas não iam além dos vales dos rios Tamanduateí e Anhangabaú. Tudo era tão perto que a primeira linha de bonde, puxado por animais, só seria inaugurada em 1872. Mas o primeiro passo para tirar São Paulo do destino periférico havia sido dado no ano anterior. A inauguração da ferrovia Santos-Jundiaí, em 1867, iria ajudar a canalizar para a cidade a riqueza do café, que se expandia pelo oeste do Estado. E, no sentido contrário, iria trazer milhares de imigrantes estrangeiros.







Consideradas estreitas até para os padrões de construção da época, com o passar do tempo, as “Ruas do Triângulo” se transformaram, naturalmente, em ruas estritamente para pedestres.







Durante o governo de João Teodoro (1872-1875), foi feito o calçamento das ruas da região, uma novidade então na época, abrangendo também o Largo do Rosário e a Praça da Sé.





O Triângulo acabou virando uma região de passeio. A expressão “fazer o Triângulo” acabou denominando o passeio de grupos de rapazes saindo do Largo São Bento, avançando pelas Ruas 15 de Novembro, Direita e São Bento, enquanto as moças faziam o trajeto inverso. (Retirado do site Sampacentro).







Dentro desse tema maior, cada um do grupo poderia escolher um assunto ou um “sub-tema” que quisesse. Eu escolhi fotografar as pessoas que trabalham e circulam no Triângulo, tentando registrar o cotidiano dos trabalhadores, artistas e moradores de rua.

Escolhi fotografar este tema, "Pessoas do Triângulo", porque retrata a pobreza (dos artístas de rua e da maioria das pessoas que trabalham lá) e também retrata a mais completa exclusão social (dos moradores de rua). A pobreza e as diferenças sociais sempre foram assuntos que me incomodaram muito. E me incomodam tanto quanto a indiferença das pessoas quando vêem estes "excluídos" nas ruas. Quanto a mim, não consigo ficar indiferente a isso. Por isso tentei retratá-los com o respeito e a poesia que estas pessoas merecem (porém, as vezes, de uma maneira um pouco mais literal). Minha intenção com estas imagens é despertar a atenção de todos para este grave problema social. Problema que tanto os políticos quanto as pessoas mais favorecidas teimam em não querer enxergar.